O lugar da maquete física
em tempos de BIM
Por Camilla Ghisleni
Certa vez, uma colega arquiteta comentou comigo que haviam contratado um novo estagiário no escritório do qual ela era sócia. Rapaz competente, dedicado que estava cursando os semestres intermediários do curso de arquitetura. Sua admissão se deu, principalmente, pelo fato de ter apresentado boas habilidades em softwares de modelagem BIM (Building Information Model), com um portfólio repleto de projetos de escala média bem resolvidos.
Entretanto, o fato interessante da conversa foi quando ela comentou que um dia qualquer, em meio a alguns estudos de projeto, pediu a ele que representasse à mão o corte de uma parede. Algo que deveria indicar reboco, pintura, alvenaria, nada muito mais detalhado do que isso. Acontece que, nesse dado momento, o então recém-admitido estagiário a observou pensativo demonstrando um misto entre “invento alguma coisa agora ou assumo que não sei?”.
Na época, lembro que esse episódio rendeu uma boa reflexão, não sobre as habilidades do novo estagiário, mas sobre a dependência que está se criando das ferramentas digitais, nesse caso, especificamente, dos softwares que utilizam a tecnologia BIM. Uma dependência que parece se instaurar principalmente nas novas gerações as quais, desde o início da sua formação, são educadas com base nos modelos digitais.
Em uma interface amigável e muitas vezes intuitiva com dois cliques erguemos paredes e definimos as esquadrias. A pré-configuração do programa permite a escolha do tipo de elemento por meio de um clique sobre o ícone. Em instantes se tem planta baixa, corte, fachada e perspectiva 3D. Sem dúvidas uma maravilha do mundo contemporâneo que facilita a nossa vida corrida de arquitetos, minimizando os erros nas obras, otimizando nosso trabalho, enfim, todas essas vantagens incríveis que bem sabemos. Porém, o episódio acima indica que parece haver um tempo certo para inserir toda essa tecnologia no processo de projeto.
Nesse sentido, a questão que me intrigou aqui, e dela nasceu esse texto, foi a importância em correlacionar as diferentes ferramentas na hora de projetar, principalmente quando se está sendo “alfabetizado” no mundo arquitetônico. Talvez o aluno citado anteriormente, até o momento, não havia parado para refletir – ou não havia sido instigado por professores, mestres, etc. a tal – sobre o quanto mede a espessura daquela parede que ele desenhava no computador, tampouco quanto significava metricamente o reboco e a pintura, apesar de ser capaz de apresentar um quantitativo de materiais muito próximo do real com, é claro, apenas outro clique.
Nesse mundo dos cliques, talvez as ferramentas tradicionais parecem estar sofrendo uma espécie de rejeição, estigmatizadas como trabalhosas e inúteis. Ferramentas tradicionais, que me refiro aqui, principalmente, como o desenho a mão livre e a maquete física.
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